18.10.07

entrevista no Clip [only in portuguese]


[Clip, suplemento cultural do Diário de Aveiro, 18 de Outubro de 2007]

Formado em Aveiro no passado mês de Agosto, com base na amizade e a afinidade musical entre os djs Bagaço Amarelo e Moa Bird, o Couscous Prosjekt pretende “viajar pelo mundo através da música”. O primeiro relata ao Clip os propósitos deste projecto deejaying.

Porquê o nome Couscous Prosjekt?

Couscous é a forma francesa de escrever cuscuz, um preparado de cereais muito utilizado nos países do maghreb e também, ainda que de outra forma, na américa latina e em Cabo Verde, países onde fazemos uma procura constante em busca de novos sons. Prosjekt quer dizer projecto em norueguês. Achámos, por isso, que era uma forma bem disposta de assumir a nossa diáspora sonora.

Qual o conceito do projecto?

O Couscous Prosjekt é um projecto de deejaying baseado na world music, algumas fusões de sons nativos e tribais com outros estilos musicais, música étnica e tradicional. Basicamente é uma forma de, numa noite, viajar pelo mundo inteiro através da música.

O Couscous Prosjekt é constituído por dois elementos. O que vos levou a trabalhar um com o outro?

O facto de sermos amigos e de termos alguma afinidade na forma como vemos e ouvimos música.

Em termos musicais, dá para diferenciar quando é que um de vocês está «nos comandos»?

Não. Trabalhamos sempre em conjunto e o alinhamento dos sets é sempre decidido pelos dois. Dada a especificidade dos nossos sets procuramos sempre, em conjunto, encontrar uma coerência que não se restrinja apenas à plástica mas também ao teor dos mesmo. Temos em conta as características estéticas, geográficas, sociais e políticas de cada tema que passamos.

Também temos sempre em conta o ambiente do espaço, improvisando sets mais dançáveis ou mais intimistas consoante o público.

Quais os autores que são presença habitual nos vossos alinhamentos?

Há tantos a referir alguns que é sempre redutor. De qualquer maneira, nome como Tinariwen, Mohammed Issa Matona, Amadou e Mariam, Mahmoud Ahmed, Seu jorge ou Lila Downs têm sido uma constante nas nossas sessões. No entanto, e como este tipo de música é de difícil divulgação, estamos sempre à procura de coisas novas.

Para além da música, também existem outras componentes durante a vossa actuação?

Estamos a trabalhar nisso mas para já não. O objectivo é conciliar trabalho de dj com vj. Muitas vezes fazemos noites em que as pessoas nos vêm perguntar o que é que estamos a passar. Acreditamos que a componente de vídeo pode colmatar essa lacuna na comunicação entre nós e o público, para além de ser sempre um enriquecimento estético.

Habitualmente, a noite aveirense estava confinada a música de dança, a música latina e, aqui e ali, havia espaço para o 'IndiePopRock' e o reggae. O vosso projecto é sinal de que em 2007 a cidade está definitivamente aberta a outras sonoridades menos 'mainstream'? O «Sons em Trânsito» [a próxima edição do festival acontece já em Novembro] tem sido fundamental para isso?

A noite em Aveiro tem crescido muito quantitativamente mas não tanto assim qualitativamente. Nós temos passado regularmente música em dois bares da cidade, o Clandestino e o Riff, onde há espaço e apetência pelo que fazemos, mas que são espaços que, pela sua natureza, fogem um bocado a uma certa apatia cultural dominante na noite aveirense. De qualquer maneira não estamos preocupados nem limitados a esta dimensão local e, neste momento, já fomos contactados para começar a fazer sets fora da cidade e do país, algo que começará a contecer, muito provavelmente, já em 2008.

O Sons em Trânsito é um festival de que gostamos e que esperamos que continue a existir.